domingo, 31 de maio de 2009

DEVANEIOS

 Levantei-me e saí correndo disparado rumo a uma porta de madeira velha e surrada, ao abrir caí escada abaixo, uma escada cheia de sujeira e restos de alimentos.
 Ainda atordoado,corri, caçando algo para comer que não estivesse em decomposição, as luzes do salão negro brilhavam como holofotes, depois de um exame minucioso percebi que eram holofotes em meio dos corredores grandiosos com várias obras de arte expostas na parede cinzenta com manchas azuis.
  Meia hora de caminhada achei um bebedouro derramando água sem parar, sem alimentos, resolvi beber incessantemente aquela água fétida que se encontrava em minha frente. Sentado em um sofá, perto de uma escrivaninha molhada, adormeci um pouco enganando a dor estomacal terrível devido a fome, incrivelmente não tinha medo e nem desespero em relação a minha sorte, minha má estrela, meu carma.
  Meus pés frios denunciaram que a água do bebedouro encharcara o salão, que agora mais parecia um esgoto subterrâneo, subi em um móvel de madeira, procurei algo que pudesse conter o aguaceiro, mas nada adiantou, só encontrei em uma das gavetas um crucifixo, uma lupa e um preservativo com lubrificante.
  Agora o desespero começava a aparecer e minha pele empalidecera de súbito, os holofotes diminuíram sua luminosidade, quando olhei para o corredor mais longo, observei uma mulher.    Ela vinha em minha direção em passos rápidos, parou em minha frente e reconheci que não estava enganado, estava totalmente despida, e  balançando os cabelos longos e negros falou:
  - Meu nome é Proba, prevarica-me!
  Refleti sobre o mundo, sobre a vontade de potência, sobre o mal que Fausto fez a si próprio, como pagar as contas no fim do mês, e se os mitos fossem verdades, e se os filhos amassem os pais, e Vishnu, Matsia, Manu, Maadeva ou seus outros trinta avatares fossem reais.
   Proba segurou em meu braço, e repetiu:
  - Meu nome é Proba, prevarica-me!
  Saí em disparada por meio das águas, cheguei até o móvel, abri a gaveta e segurei o crucifixo, mas minha fé acabara, peguei a lupa e vi o mundo todo distorcido, só restou-me o preservativo. Finalmente aquelas obras serviram para algo, as obras eram boas para amortecer os impactos fortes e posições inimagináveis.
  Os restos de alimentos misturavam-se com o líquido fedorento do bebedouro, já destruído por um curto- circuito, os holofotes apagaram-se totalmente e meus pensamentos, não os tinha.
  Toda a fome terminara, o banquete foi servido com direito a sobremesa, sentado na escada olhava Proba nadar nua no salão imenso, levantei a fronte e no forro do teto havia a seguinte inscrição em latim: Plaudite amici, comoedia finita est!